O Japão, como todos sabem, é um país de contrastes. Se de um lado temos máquinas automáticas, trens bala, celulares nas mãos de toda a população, TV digital no país inteiro e outras quinquilharias mil que você sempre quis e nunca vai usar, do outro lado temos as arcaicas e normais bicicletas.
Estacionamentos para bicicletas estão espalhados por todos os cantos. Mesmo nas ruas mais estreitas, carros, pessoas e bicicletas convivem pacificamente, sempre um dando a vez para o outro num tráfego poético e tranquilo. Até mesmo eu, que não sou fã de andar de bicicleta por motivos que logo explicarei, desejei sentir o vento gelado e a emoção da velocidade sobre duas rodas.
Apesar das bicicletas atravessarem meu caminho a todo instante, nunca pensei em comprar uma aqui no Japão por dois motivos básicos: primeiro, sempre achei um desperdício de dinheiro comprar uma bicicleta de R$130,00 (a mais baratinha que vi) para usar apenas por seis meses e, segundo, eu não sei andar direito de bicicleta. É, pasmem.
A primeira vez que consegui andar sem rodinhas na minha Brisa Monark eu já tinha 12 anos. A partir de então minhas habilidades não melhoraram muito e até hoje tremo muito o guidão enquanto ando. Certa vez eu estava andando no estacionamento do supermercado Carrefour Pinhais – numa época em que os supermercados não abriam aos domingos -, fui atropelada por alguém e perdi a respiração. Claro que, numa reconstituição, eu provavelmente seria a causadora do acidente.
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Emprestando uma bicicleta
No alojamento da Gaidai, onde estou hospedada, é possível pegar emprestado, entre outras coisas, uma bicicleta. Eis que tomei coragem, respirei fundo e decidi ir pedir a dita cuja para matar a minha vontade incontrolável de sentir o gostinho da liberdade. O bom é que minha aventura começou bem rápido: quando percebi o estado de conservação da minha companheira de um dia.
Toda enferrujada, com barulhos por todos os lados, banco baixo e pneus da bridgestone (tá, essa era a melhor parte), tentei dar as primeiras pedaladas, desejando que ninguém estivesse olhando. Depois de algumas tentativas sem conseguir me estabilizar, finalmente consegui sair do lugar e andar pela universidade vazia de sábado à tarde. Ah, se você aprende uma vez a andar de bicicleta, nunca esquece.
Naturalmente, minha felicidade durou pouco porque, cerca de 500m depois eu já não conseguia pedalar, as pernas deixaram de responder. Parei um pouco e, como minha teimosia é maior do que meu cansaço, prossegui. Após mais duas pausas, saí da universidade e me encaminhei para a estação Tobitakyu.
Quando eu não conseguia mais pedalar, continuava o caminha à pé, empurrando a bicicleta ao meu lado. Por vezes eu tropeçava no pedal e quase caía, outras, tinha medo e parava de pedalar quando estava prestes a desviar pessoas, mas ainda sim continuei até o fim.
Ao voltar para a universidade, uma sensação de dever cumprido me invadiu: andar de bicicleta pode não ser tão fácil quanto parece – ainda mais quando vejo os japoneses tão habilidosos e tranquilos pedalando – mas ainda sim é muito divertido.
Leia outras aventuras minhas no Japão em Tadaima no Japão
P.S.: Pedalar contra o vento é duas vezes mais difícil!
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