Quando eu nem sequer pensava em trabalhar com HQs, tive a oportunidade de conviver com um dos grandes nomes do quadrinho nacional: Claudio Seto. Para quem não sabe, Seto foi o primeiro artista a publicar mangá no Brasil – isso no final da década de 1960, quando termos como samurai, ninja, gueixa, katana e outros estavam longe de serem conhecidos em nosso país. Mas, se a maioria admira o Seto quadrinista da época de ouro dos gibis nacionais, eu tive a chance de conhecer outras facetas dele e aprendi muto mais do que qualquer história poderia me ensinar.
Eu já conhecia o trabalho dele como quadrinista quando o convidei para participar de uma entrevista para a rádio da universidade (na época eu estava cursando jornalismo). Quando eu o encontrei pela primeira vez, houve aquele encantamento que temos ao encontrarmos o nosso ídolo. O Seto sempre foi uma pessoa mística e, fosse pela sua barba comprida e listrada, pela sua fala miúda ou por sua forte presença, ele transmitia certo mistério. Alguns dizem que era herança oriental apenas, mas eu tenho minhas dúvidas.
Na ocasião, como a fã tolinha que sou, pedi para que ele fizesse uma caricatura minha. Ele, ao invés de se negar, fez não só a minha caricatura, como também de outras duas amigas que estavam presentes.
A partir de então eu comecei a me aproximar da comunidade japonesa de Curitiba. Parece pouco, mas a vida não é feita de grandes acontecimentos; ela é feita da aprendizagem e das experiências que temos. O Seto nunca me negou ajuda ou apoio, muito menos me pediu algo em troca. E eu sempre serei grata por isso.
Em 2007 escrevi minha monografia sobre eventos de cultura japonesa em Curitiba. Como ele é um dos fundadores dos matsuris daqui, o entrevistei algumas vezes. E foi numa dessas conversas que eu não resisti em fazer a pergunta: por que você não faz mais quadrinhos? E ele, em seu tom usual, logo me respondeu: porque não dá dinheiro. Na época eu não entendi muito bem, afinal ele não tinha trocado desenho por medicina! O Seto sempre foi um artista.
Hoje vejo que talvez ele tenha escolhido a resposta mais curta para me dar. No entanto, a explicação deva ter mais fatores do que simplesmente o financeiro. Como eu disse anteriormente, Seto viveu a época de ouro dos gibis nacionais e, depois que a editora Grafipar faliu, ele simplesmente quis mudar de ares e dedicou-se às artes plásticas. Vendeu seus quadros, algum tempo depois começou a trabalhar com a comunidade japonesa, tornou-se chargista… Em outras palavras, Claudio Seto sempre foi um multiartista que transitou em muitas áreas e teve êxito em todas elas.
A cultura japonesa tem vários aspectos interessantes e um deles, que aprendi com o Seto, é ajudar ao próximo e partilhar. Não a ideia que temos de ajudar os mais necessitados, mas sim ajudar quem está ao nosso lado mesmo, pelo bem e sem pedir nada em troca. A ideia de que não é preciso ter muito para começar a partilhar, basta querer partilhar algo. Isso é muito difundido dentro da cultura japonesa, mas se não fosse o “empurrão inicial” do Seto, talvez eu nunca tivesse aprendido.
Bem, a vida… A vida é uma caixinha de surpresas. Por mais que eu adorasse quadrinhos, nunca pensei em trabalhar na área. Isso até o início de 2015, quando uni quadrinhos, cultura japonesa e Claudio Seto em um só projeto: o roteiro da HQ A Samurai. A história que escrevi foi, sem querer, uma homenagem ao Seto. Além do nome ser A Samurai (em 1967 ele começou a publicar o mangá O Samurai), todos sabemos que samurais precisam de mestres. E o mestre da personagem principal da história é, ninguém menos, que o próprio Mestre Seto.
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