Essa é uma carta aberta aos meus professores de japonês e acredito que eles não vão ficar nada felizes comigo (ou talvez fiquem, pela minha sinceridade). Acontece que, quando comecei a estudar japonês, no início de 2007, eu só queria me divertir, não era nada sério. Ao contrário de muitas pessoas, nunca tive um objetivo certo, muito menos tinha a idéia fixa de morar no Japão, então ia levando como dava (em outras palavras, com muita preguiça). Acontece que, por obra do destino, acabei viajando para o Japão para estudar japonês no sistema de ensino japonês – ou seja, sem espaço para a preguiça (e sim, pleonasmo).
Pensando nisso resolvi fazer uma lista das coisas que eu sempre ignorei durante as aulas (eu e minha memória seletiva) e que senti falta logo nos primeiros dias de vida no Japão.
1. Tipos de Trem
Quando eu ouvi sobre os tipos de trem nas aulas de japonês eu simplesmente pensei “não preciso memorizar isso, vai só ocupar espaço na minha cabeça, nunca vou pro Japão mesmo“. É, nunca diga nunca, porque às vezes acontece de você precisar pegar um trem no Japão, vai saber.
Existem cinco tipos de trens no Japão, são eles (do mais devagar para o mais rápido): futsu 普通, kakutei 各停 ou kakueki 各駅 (local), kaisoku 快速 (rápido), kyuukou 急行 (expresso), liner ライナ (expresso mais rápido), tokkyuu 特急 (expresso limitado) e shinkansen 新幹線 (super expresso). A diferença entre eles é em quantas estações eles param no caminho – assim como os ônibus de Curitiba. O grande cuidado mesmo é entre pegar o trem local e o rápido, porque o rápido para apenas nas estações principais – mas se errar a estação, é só voltar pelo mesmo caminho, bem simples.
2. Recebendo explicações sobre como chegar a algum lugar
Bem, eu não consigo explicar como chegar a algum lugar em português, imagina em japonês. Sendo assim, nunca fiz muito esforço para aprender as expressões de vire aqui, vá acolá, etc. Afinal eu nunca precisaria mesmo…
Eu me perdi algumas vezes, principalmente no primeiro mês, até eu tentar arrumar o meu senso de direção que já nasceu estragado. Na hora de perguntar é fácil すみません、本屋行きたいですが。。。 (com licença, quero ir na livraria mas…). Não precisa terminar a pergunta para ter uma respostas, os japoneses adoram umas perguntas sem fim assim mesmo. O ouvinte é que tem que completar a coisa toda e responder.
Mas o problema era ouvir a explicação toda. Certa vez me mostram até um desenho, mas entender de verdade a explicação do caminho eu nunca entendi. Quando eu achava que estava no caminho certo, perguntava pra mais uma pessoa para confirmar. E assim fui chegando onde queria.
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3. Kanjis
Ai, kanjis são cansativos de se estudar, confusos, complicados para qualquer mortal que não tenha nascido no Japão ou na China. Quando eu vi que eles iam me tomar muito tempo, simplesmente fui ignorando, ignorando, ignorando… E no até hoje me confundo um pouco com os mais básicos. Houve um momento em que me olhei no espelho e decidi me dedicar a aprender direito a gramática japonesa e ignorei os kanjis.
Não que seja um erro por completo, mas infelizmente não saber os ideogramas significa abrir mão de todo o vocabulário. Me faltam muitas, muitas palavras memorizadas que, quando eu leio, me lembro do significado na hora. Acredito que a fixação do vocabulário, ao menos no meu caso, seja um processo bem vagaroso porque eu não consigo ficar muito tempo numa coisa só – e estudar kanji exige esse tipo de concentração. Quem sabe daqui uns 20 anos…
4. As regiões do Japão
Como nunca gostei de mapas, não fiz muita questão de decorar o nome das quatro ilhas principais (Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu) que formam o país. Energia gasta à toa, pensei comigo, melhor ir jogar videogame. Pois é, mas a grande diferença entre o Japão e o Brasil é que as pessoas realmente tem uma identificação com o local de origem, com a sua cidade natal (furusato 古里). Ao conversar com os japoneses, eles gostam de falar que são da cidade tal, e lá é frio, tem tal comida, etc etc. Quando perguntam da minha cidade eu falo que sou de Curitiba e lá é… cinza. Foi por isso que comecei a prestar mais atenção no mapa do Japão, saber quais cidades ficam ao norte, quais ficam ao sul e, principalmente, em que região eu estava.
Por enquanto não consigo me lembrar de nada, talvez porque eu não tenha passado por um aperto ainda. Imagino que deva haver mais lições que eu ignorei e, quando eu me lembrar de alguma, volta aqui e aumento a lista, prometo! E agora que terminou de ler, não faça como eu e vá estudar japonês!
Leia mais sobre minha estadia no Japão em Tadaima no Japão
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