Shinchiro Watanabe, diretor de Cowboy Bebop e Samurai Champloo, é destaque no Estadão

Flavia Guerra – O Estado de S.Paulo

Shinichiro Watanabe é um dos maiores mestres do anime mundial. “Pai” do Cowboy Bebop, do Samurai Champloo e do Animatrix, é também um dos convidados de honra do 19.º Anima Mundi, que começa hoje e vai até dia 31 em vários locais. No papo animado que vai ministrar hoje, às 19 horas, certamente vai falar ao público paulista do segredo da receita de sucesso de Samurai Champloo.

Champloo (ou champuru) é um prato de Okinawa, província do sul do Japão. Algo como um caldeirão de ingredientes. “Você vai juntando tudo e, no final, esta mistura de tudo é o “champloo. É um mix delicioso”, explicava Watanabe à plateia que lotou o Anima Mundi na semana passada no Rio e, a julgar pelo alvoroço que sua aula magna (ou Papo Animado) causou no público carioca, sua passagem por São Paulo vai ser também animada.

Homenageando Watanabe, não seria má ideia chamar Festival Champloo. Afinal, no caldeirão de referências do Anima Mundi tem de tudo um pouco. Além do papo imperdível com Watanabe, interessante não só para os fãs do anime, têm atrações como a performance delicada de Miwa Matreyek (hoje, amanhã e sexta, às 18 h e 19h30 no Memorial) e o Papo Animado e intrigante com o americano David Daniels, que criou a “strata cut” e vem a São Paulo mostrar como se faz para ser um animador premiado já aos 14 anos (amanhã, às 19 h, no Memorial). São 421 filmes de 44 países, dos quais, 77 brasileiros.
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Tem ainda longas convidados, incluindo o primeiro animado do espanhol Fernando Trueba, Chico e Rita (22 h, no Cine Livraria Cultura). E homenagem a Carlos Saldanha, que no Rio lotou também o Centro Cultural Correios com sua palestra sobre “de como quando se faz aquilo que se ama com amor e dedicação o universo conspira para que você, ao mesmo tempo, realize seu sonho de vida, transforme sua declaração de amor à sua cidade em um projeto divertido e capaz de arrecadar milhões em todo o mundo”. O nome disso? Rio. O diretor carioca, que participa do festival desde a primeira edição, ganha homenagem e terá seu primeiro curta, Time For Love, exibido amanhã, às 19 h, na Livraria Cultura e sexta, às 12 h, no Memorial.
Amor Cubano: Chico & Rita, primeiro longa de animação de Fernando Trueba, conta a história de amor de um casal de músicos cubanos.

Tem também a coletânea Chilemono (mono é desenho animado no Chile), que pode ser vista amanhã, às 19 h, no Espaço Unibanco. A Polônia mostrando que é um dos maiores berços de novos talentos de “animadores europeus”. Integra o festival com curtas como o premiado Paths of Hate e o clássico Cronópolis, de 1982, de Piotr Kamler, com sessão hoje, às 13 h, no Memorial. Entre as atividades para a criançada, está o Estúdio Aberto. Mixando oficinas de várias técnicas, de massinha a pixilation. Enfim, como bom champuru, o Anima Mundi tem de tudo um pouco.

Mestre. Mas talvez o ingrediente final seja mesmo a aula de Watanabe. Apaixonado pela música brasileira, ele, um belo dia, sem falar português, comprou uma passagem para o País e resolveu procurar a garota de Ipanema. “Eu não conseguia nem pedir comida porque não falo inglês também. Não deu muito certo minha primeira visita”, lembrou, para uma plateia em risos.

Já a segunda deu mais que certo. Chance rara tanto para fãs iniciados quanto para quem ainda está começando na arte do anime entender não só como nasce um sucesso como Cowboy Bebop, mas também como pensa um dos samurais da animação mundial. Quem ainda pensa que anime é coisa de criança ou de nerd saiba que uma das maiores referências de Watanabe é a obra do cineasta Sam Peckinpah (um dos ídolos de Quentin Tarantino). Não por acaso ele adora o cinema pulp. “Um dia copiamos um bar de um filme do Robert Rodriguez. Ele viu e comentou. Morri de medo de ser processado mas ele gostou da homenagem”, brincou o japonês, que aproveita a visita ao País para comprar CDs de música brasileira.
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Vale lembrar que não é só “coisa de fã” a sua paixão pela música nacional. Como também é diretor musical, é sempre primeiro da trilha sonora que o diretor parte para, então, escrever um episódio. Não raro, há referências ao hip hop (como em Samurai Champloo) e à bossa nova (o tema de Fuu, a musa de Champloo, é uma bossa nova versão Japão que foi hit nas rádios). E o que não sai de seu iPod atualmente? “Adriana Calcanhotto. Estou ouvindo o último CD e adorando.”

Não é por acaso que o diretor é um dos mais cultuados animadores do mundo. Suas histórias são violentas, mas sempre cheias de humor, cor e, claro, muita bossa. A propósito, nem só de lutas vive sua obra. Quem tiver o privilégio de assistir ao papo animado com ele, poderá ver Baby Blu, seu “primeiro trabalho em que ninguém morre.” E acrescenta: “Todo mundo tem seu lado romântico.”

ANIMA MUNDI
Memorial da América Latina. Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. 3823-4600.
CCBB. Rua Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651. Cine Livraria Cultura. Rua Padre João Manoel, 100, tel. 3285-3696. Espaço Unibanco. Rua Augusta, 1.475, tel. 3288-6780. Programação completa: www.animamundi.com.br.


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