Decidi fazer um relato da primeira situação realmente adversa aqui no Japão. Bem, hoje foi dia de exame médico para todos da universidade, uma bateria de exames que ia desde Raio-X, oftalmo, pressão, etc. Algo normal para muita gente, mas eu realmente não gosto de médicos então procuro não fazer exames com frequência. Bem, mas fui. Sai do quarto levando exatamente o que tinha que levar e logo pensei “bem, regras são regras, estou no Japão e aqui temos regras de verdade”.
Chegando no Centro Médico, logo de cara me deparei com o pior dos exames: o exame de sangue. Aqui preciso fazer um parenteses para que você entenda o que me aconteceu. Eu tenho pânico de sentir dor, um medo incontrolável que toma conta de mim e acaba com meu raciocínio lógico. Tenho puro e simples medo. Inclua uma agulha na idéia da dor e aí sim se torna terrível. Eu fui até a bateria de exames sem saber do exame de sangue, ou seja, não estava preparada para “o pior”.
Estou no Japão, todos dizem “ganbatte kudasai” (se esforce por favor), mas o sangue latino fala muito mais alto. Existem coisas que não podemos controlar e meu medo é uma delas. Quando percebi minha respiração estava ofegante e eu estava chorando. Eu não conseguia mais entender o que as enfermeiras me falavam em japonês e não havia ninguém comigo. Ela queria que eu me deitasse e tentasse, mas eu estava prestes a desmaiar de medo. Precisava me acalmar.
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Veio uma moça muito boazinha falar comigo em inglês e me distraiu um pouco. Sem saber o que eu queria fazer, a enfermeira disse pra eu ir fazer os outros exames e deixar a coleta de sangue por último. Parecia bom, mas não é tão simples.
Regras são regras. Eu queria quebrar uma regra, pular uma etapa do processo. No Brasil seria simples, tudo bem, a menina é louca mesmo, deixa ela se acalmar. Mas lembre-se, estou no Japão, eu não podia pular um pedaço. Um médico foi chamado e eu fui conversar com ele. Vale lembrar que o médico tinha a cara de um meme de internet, coincidência ou não. Como uma boa pessoa ele me explicou a importância do exame de sangue (em inglês, por favor) e disse que eu tinha duas opções: fazer ou não fazer o exame. Se não fosse fazer, era pra escrever em inglês o meu motivo.
Olha, eu sei a importância de um exame de sangue, ninguém precisa me contar. Só tenho medo da dor, só isso, um medo incontrolável. Foi então que eu percebi que ele não conseguia entender o meu medo incontrolável, essa emoção passional que eu tenho. Os japoneses sentam na cadeira, tiram sangue e vão embora, organizados, iguais, normais, sem medo nem descontrole. É como se não houvesse o fator díspar, a pessoa que simplesmente não quer seguir a regra.
Eu era o fator díspar, queria deixar o primeiro exame por último. Não consegui. Eu me vi obrigada a respirar fundo e enfrentar meu medo para poder continuar o exame. Regras são regras, não me restou nada além de dançar a dança que todos dançam por aqui, não é mesmo?
Até agora não consegui definir se seguir as regras tão fielmente é bom ou é ruim. Deixo a pergunta no ar para alguém que poss responde-la melhor que eu.
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