Os japoneses são conhecidos pela sua honestidade e esforço. São capazes de treinar desde bem cedo, faça chuva ou faça sol, caso sejam esportistas; estudam até a exaustão quando precisam lembrar de algo; trabalham por 12h ou até 14h e ainda encontram forças para participar de nomikais com os colegas de trabalho. Quando o assunto é dinheiro então, é muito mais admirável: dão até o último centavo de troco, devolvem o que encontram e não roubam. Tudo que parece parte de um sonho tem um lado muito mais profundo e marcante, definido pelos conceitos de tatemae e honne.
Tatemae, o que é esperado
Tatemae nada mais é do que “mascarar” seus verdadeiros sentimentos e pensamentos em prol da paz e da harmonia do grupo. É comummente visto entre colegas de escola ou trabalho, quando não são amigos ou a situação não é adequada. Por exemplo, eu estava fazendo um trabalho com uma menina japonesa, na universidade. Em uma das últimas vezes em que nos vimos, ela disse que morava perto e me convidou para ir na casa dela. Eu concordei, nos despedimos e eu nunca soube o endereço dela – o que é completamente normal. Ela me convidou por tatemae, ou educação, como preferir, mas não significava que era para eu ir lá realmente.
Honne, o que é sentido
Em contrapartida temos o honne, que define o que a pessoa realmente sente, o que ela gostaria de falar ou como ela gostaria de agir. Quem sabe, a menina sempre sorridente que me convidou para ir na casa dela, talvez me odiasse profundamente e nunca tenha dito. Não sei, não posso afirmar nem que sim e nem que não, já que ela nunca me disse nada – e dificilmente diria, porque o objetivo é não entrar em conflito com as pessoas.
Sem conflitos nem certezas
Todos que querem entender a cultura japonesa precisam saber um pouco sobre Tatemae e Honne, pois os dois conceitos estão presentes todo o tempo no cotidiano dos japoneses. Se a convivência é aparentemente pacífica e os grupos funcionam em harmonia – como por exemplo, no ambiente de trabalho -, o custo é muito alto. Muitos japoneses se sentem sufocados porque, ao mesmo tempo que ninguém briga, não é possível expressar os próprios sentimentos e nem ter certeza se o que os outros falam é verdade.
Por trás dos rostos sorridentes, sempre cheios de energia, hospitalidade e boas intenções, o que será que realmente existe? Claro que é ótimo ser atendido bem em lojas, como eu já escrevi aqui, mas também não podemos deixar de ter uma visão crítica sobre o assunto.
Todos temos dias ruins, falta de vontade, preguiça. Nem sempre é possível se dar bem com todos que nos cercam. Mas os japoneses passam por cima de tudo isso pela boa convivência e pelo que esperam de cada um. Não demonstrar que sente alguma dor ou está com algum problema é comum, aceitável e esperado.
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Se você já leu alguma história japonesa, seja um livro, manga ou viu algum filme, já pensou por que os personagens não falam o que eles sentem? Mesmo quando questionados, perguntados, pressionados, eles não falam nem demonstram! Problemas mil, amor à flor da pele, não importa, é sempre aquela enrolação. Não é só vergonha – os japoneses gostam de parecer fortes porque a sociedade exige isso.
Tatemae e Honne não são fenômenos exclusivos da sociedade japonesa, mas no mundo ocidental não temos dificuldade em expressar nossos verdadeiros pensamentos e emoções, além de não ser tão terrível assim criar inimigos e entrar em conflito – muito pelo contrário, quem não entra em conflito pode até ser visto como hipócrita.
E você, abriria mão de parte da sua liberdade de se expressar pelo bem do grupo? Seria capaz de não expressar o que pensa e guardar tudo para si?
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