Tadaima!: Antes de mais nada, apresentem-se!
Matheus: Somos a banda The Kira Justice, de Porto Alegre/RS. Nosso repertório contém principalmente músicas de Animês, tendo também games, tokusatsu e músicas próprias. Mas antes de tudo, somos uma banda de Rock. Oficialmente, somos quatro pessoas:
-Sarisa Lynar: Vocalista
-Matheus Lynar: Vocalista/Guitarrista
-Alice Capovilla: Baixista -Pantcho: Baterista
T!: Como foi formada a banda?
M: Em meados de 2007, eu estava ensinando a Alice a tocar, e resolvemos montar uma banda, mais pra botar em prática o que ela estava aprendendo. Ela já tinha tocado em alguns shows com a Street Cats, outra banda que eu tinha na época, e assim seria uma boa forma de ela progredir. Eu entrei na The Kira Justice só para “dar uma força”. Não fazia idéia de que a banda se tornaria o que é hoje.
T!: De onde veio o desejo de tocar músicas de desenhos animados japoneses?
M: O desejo já vem de muito tempo atrás, mas a possibilidade se tornou concreta quando começaram a aparecer as bandas em eventos de anime, porque daí haveria um lugar para mostrar essa ideia para o público certo.
Mas em relação a escolha, essas músicas marcaram de fato nossas vidas. Eu era o tipo que assistia à TV manchete todas as tardes que ficava em casa, acordava sábado de manhã pra assitir Fly, o Pequeno Guerreiro e Dragon Ball (E Street Fighter!), e era simplesmente fissurado por Pokémon. Joguei todos os jogos da franquia que tive acesso e fui um dos tantos a chorar no episódio O Adeus de Pikachu.
Alguns anos depois, passei a conhecer o universo dos “animes-fora-da-tv-aberta”, e me encantei particularmente por Elfen Lied e especialmente Death Note.
T!: A banda recebe muita influencia da Cultura Japonesa?
M: No meio que estamos inseridos, é inevitável. Apesar da forte carga de influência da cultura ocidental na banda, quando você começa a se envolver com músicas japonesas, feitas em cima da cultura japonesa, isso começa a mexer contigo como músico. Há muita coisa que eu acho surpreendente na música japonesa que me inspira, em especial o carinho que essa cultura tem com os detalhes contidos nas músicas e em sua execução.
Isso dito, eu gostaria de ressalvar que a The Kira Justice é uma banda de Rock brasileira. Não temos pretensão de ser um plágio barato de músicas japonesas. Nos deixamos inspirar por qualquer coisa que nos agrade em qualquer cultura e tocamos músicas para brasileiros, independentemente de termos orgulho de nosso país ou não, temos mais orgulho do nosso público.
T!: Os membros já tiveram bandas anteriormente?
M: Eu e a minha irmã (Sarisa) tocamos na Street Cats (2004 – 2009). Ela era baterista da banda, daí que veio a ideia dela ocasionalmente tocar bateria nos shows da TKJ. A Alice não teve outra banda, mas participou de shows dessa banda, isso antes de formarmos a TKJ.
O Pantcho já tocou em bandas de pop/barzinho antes de entrar na The Kira Justice, também.
T!: Na sua opinião, quais as vantagens de ter tido experiências na cena underground para então formar uma banda de J-music? O que vocês passaram a valorizar?
M: Muda muita coisa. No underground é cada um por si, você pega palcos ridiculamente pequenos, equipamentos que nem sempre são ideais para se fazer um show, nem sempre é colocado para tocar em lugares onde o público é o adequado para a sua banda, e tem que ficar muito feliz se te derem um tempo razoável para passar som. Sem contar algumas falcatruas pelas quais se passa, eventualmente.
Daí você chega em lugares que te oferecem equipamentos razoavelmente bons, um espaço bom pra tocar, um publico bem mais interessado… Impossível não se sentir grato por essa oportunidade.
T!: Como surgiu a idéia de fazer novos arranjos para as músicas?
M: Eu já brinco com isso desde o tempo da Street Cats, quando fizemos isso com uma música do filme “O Rei Leão”. Mas na TKJ isso não era apenas uma “brincadeira”. Simplesmente o meio dos animes e game songs tem músicas que tocam no fundo do coração mas que ao vivo ficariam simplesmente patéticas. Pegue como exemplo “Fly, O Pequeno Guerreiro” ou “Os Cavaleiros do Zodíaco”. Consegue imaginar uma banda tocando isso num arranjo similar ao original e ficando divertido? Eu não.
Posso citar como influências precedentes para isso a banda Animetal e principalmente o album Punk Goes Pop, que é basicamente uma coletânea de várias bandas pegando músicas pop e dando uma roupagem bem mais pesada para ela.
T!: Por que decidiram compor novas músicas baseadas em clássicos japoneses?
M: Primeiro porque é sobre isso que é a The Kira Justice. Sobre coisas que te trazem lembranças de coisas que você gosta. Fazer algo tocante já é algo ótimo. Ser ainda assim um material original é um bônus impagável.
Segundo porque ter boas lembranças de algo sempre é uma inspiração e tanto! Acredite, às vezes é mais fácil escrever uma letra inspirada num anime do que em experiências pessoais.
T!: Existem festivais de j-music em PoA?
M: Festivais mesmo, focados em banda, apenas um: O Anime Rock, organizado esporadicamente por mim (a última edição foi em setembro de 2008), mas tenho planos de organizar algo maior para a próxima, mas não tenho previsão para uma próxima edição.
Fora isso, temos apenas festas onde as bandas se apresentam às vezes, a domingueira j-rock, uma espécie de showcase para bandas novas, e é claro, os eventos de anime, que ainda são o foco principal das bandas gaúchas do segmento.
T!: Vocês já tinham vindo a Curitiba?
M: Não. Nem a passeio.
T!: Conte um pouco da experiência de fazer o primeiro show em nossa cidade.
M: Haha, foi algo muito novo – e de certa forma mágico – do começo ao fim, só pra você ver, os outros 3 da banda nunca tinham sequer viajado de avião. Foi bastante gratificante e é um show que hoje – quase um mês depois – a gente ainda comenta momentos do show com muito entusiasmo.
T!: Como vocês se sentiam momentos antes de pisar no palco?
M: A ideia de tocar num lugar relativamente longe de casa e para um público que em sua maioria nunca ouviu falar da gente assusta no começo. Antes de subir no meu palco muita coisa passava pela minha cabeça. “E se eles não gostarem?” “E se o pessoal até gostar, mas simplesmente não se empolgar?”. Bem, toda essa besteira saiu da minha cabeça ainda na primeira música do show (“Pokémon Theme”) onde as pessoas começaram a cantar junto, bater palmas e pular.
No fim das contas, saímos ridiculamente satisfeitos pelo show e pelas pessoas que conhecemos, tanto da organização quanto do público quanto das outras bandas que lá tocaram.
T!: Vocês já fizeram shows fora de RS? Onde? Como foi?
M: Além do show no Gaijin-No Fest, no Paraná, tocamos no Otaku Music Festival, em Blumenau/SC, onde tivemos o primeiro contato com público de fora do estado e conhecemos a banda que viria a se tornar nossa grande amiga, a Ryokan.
Mais tarde voltaríamos a dividir os palcos com eles na Game Party, em Florianópolis/SC, onde também tocaram a MegaDriver e a 8-bit instrumental, que também fizeram shows fantásticos. Foi a partir desse show que as músicas instrumentais de games consolidaram um espaço permanente na nossa setlist.
Em ambos shows, o público nos recebeu muito bem, o que me remete ao que eu disse antes sobre ser grato. Eu me sinto até sortudo, pra dizer a verdade.
T!: Qual foi a impressão que vocês tiveram das outras bandas?
M: Num geral, foi boa. Eu tinha ouvido falar que o estado do PR carecia de boas bandas, o que foi desprovado pelas bandas que se apresentaram no Gaijin. Ênfase para o trabalho de vocais da The Black Heaven e a execução do tema de Power Rangers pela Midnight Projekt.
T!: O público curitibano gostou muito da TKJ. Existe alguma “fórmula” para animar os espectadores?
M: Não. A The Kira Justice tem o jeito dela de funcionar e funciona muito bem, mas isso não quer dizer que isso vá funcionar em qualquer banda.
Mas um conselho que eu daria para qualquer banda de qualquer estilo é: Pense no seu público. Se não vai pensar, fique tocando na sua garagem, pros seus amigos. Se quer sair e se apresentar, toque algo que goste (pois as pessoas sentem isso), mas tente trazer algo que as pessoas consigam curtir. Se não, é perda de tempo.
T!: Quais são suas principais influências?
M: Como eu falei antes, a gente tenta manter a cabeça aberta e deixar se influenciar por tudo o que for bom de influenciar. Mas duas coisas que eu poderia dizer que nos influenciaram e pode-se notar certa similaridade no nosso trabalho é o album Punk Goes Pop, já mencionado anteriormente e a banda americana Story Of The Year, que é uma banda que apesar de tirar um som pesado e bem executado, tem uma presença de palco absurdamente empolgante nos shows. Já acompanho o trabalho deles faz alguns anos, mas vê-los ao vivo em fevereiro desse ano foi emocionante. Bem melhor que no Youtube!
T!: De onde surgiu a idéia de comentar cada música que vocês vão tocar?
M: Bem, aí vem algo estranho. Lembra do que eu falei sobre a cabeça aberta e se deixar influenciar? Pois certo dia eu liguei a TV aleatoriamente de madrugada e estava passando um show do Victor e Leo (!). Como fã de sertanejo universitário que não sou, pensei imediatamente em trocar de canal. Mas vi um deles comentando sobre o significado de uma música deles, o que me chamou a atenção e até me fez ouvir a música atentamente. (!!!). E subitamente me ocorreu que quando você fala sobre a tua música, sobre o que ela é pra ti, ela ganha uma importância pra quem vai ouvir. A letra deixa de ser só um bando de palavras agrupadas e se tornam algo com sentido.
T!: Na opinião de vocês, o que vale mais a pena: apostar na técnica ou na presença de palco?
M: Bem… Apesar de levarmos a banda muito a sério, nossa função principal é se divertir fazendo isso. Eu, particularmente prefiro correr tocando guitarra a ficar de cabeça abaixada tentando fazer milhares de notas por minuto. O público em geral parece concordar com a ideia!
Mas não entenda mal: Uma boa execução de uma música, com uma boa harmonia entre os instrumentos e um vocal com boa expressão e afinação é indispensável para um grande show. Mas se você se limita a isso, não tem o coração do público. Sua banda é apenas mais uma banda sem sal entre tantas outras.
T!: Como e onde vocês gravam suas demos?
M: É tudo gravado aqui em casa. Eu não sou nenhum rico, conto só com uma mesa de som de 2 canais, uns microfones, alguns GB de software digital e “muito amor no coração”, como eu costumo brincar. Não é tão fácil mixar músicas em casa e tirar um bom resultado, mas depois que se pega o jeito o resultado é bastante prazeroso.
T!: A banda é bem compacta e não tem tecladista. O que vocês fazem quando a música necessita de algum outro instrumento?
M: Na verdade, 3 de nós sabem tocar teclado. Inclusive em alguns lugares você encontra a Sarisa como vocalista/tecladista da banda, porque ela ocasionalmente toca teclado mesmo. Mas optamos por deixa-la só com o microfone para ela ter mais liberdade no palco e maior proximidade com o público.
Com o auxílio do laptop (santa tecnologia!) usamos o recurso das backing tracks, bem resumindo, gravamos quaisquer faixas adicionais para o show aqui em casa e no show nós (na verdade, o baterista) sincronizamos a faixa com a execução da música.
Lembra do que eu disse antes sobre a influência das bandas japonesas? Bem, essa técnica de utilizar backing tracks (principalmente o modelo click + track) é rara no ocidente, mas absurdamente comum em bandas japonesas.
T!: Considerações finais?
M: Gostaria de agradecer ao Tadaima! Curitiba pela oportunidade e pela entrevista – uma das mais interessantes e completas que já respondi.
Ao Nanael, pela oportunidade inesquecível de tocarmos no Gaijin-No Fest e pelo almoço na casa dele. Qualquer hora que tiver algo bom, convida que a gente dá um pulinho aí!
Ao público de Curitiba, pelo carinho que tiveram ao nos receber aí em maio. Estou com saudades de vocês! Espero revê-los em breve.
A VOCÊ, sim, VOCÊ que leu essa entrevista até o final. Essa entrevista ficou um pouco longa, mas espero que tenha sido interessante. Espero que tenha gostado do que descobriu sobre nós. Se não tiver gostado, eu vou entender quando você me deixar um scrap dizendo “obrigado por me fazer perder 5 minutos da minha vida”.
Finalmente, não deixem de conhecer nosso trabalho através do MySpace e acompanhar as novidades da banda através da Comunidade no Orkut. Já passamos de 1000 membros!
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