História dos Matsuris de Curitiba

Cartaz do Imin Matsuri 2009
Cartaz do Imin Matsuri 2009

Apesar da grande população de nikkeis residente em Curitiba ao longo de século XX, apenas da década de 1990 é que se teve a idéia de realizar na cidade os tradicionais matsuris, festivais japoneses que acontecem freqüentemente em comemoração a alguma data especial (dia das meninas, dos meninos, primavera, etc).

A idéia do primeiro Imin Matsuri (festival da imigração), realizado em junho de 1991, foi sugerida por Seto (2007), ao então presidente do Nikkei Clube localizado no bairro do Uberaba em Curitiba, Rui Hara. Na época eram realizadas inúmeras rifas com o intuito de arrecadar fundos para bancar as viagens das várias equipes de esportistas, principalmente beisebol, que treinavam no clube. O matsuri foi realizado no ginásio do local e reuniu várias entidades e departamentos do Nikkei com o intuito de ajudar todos a arrecadar verbas para cobrir despesas de suas próprias atividades.

O festival nada mais foi do que uma renovação da festa junina que era realizada anualmente pela entidade. Várias atividades, como o correio elegante e a eleição da mais bela sinhazinha foram substituídas por adaptações de costumes dos matsuris japoneses. Rosa Osaki, diretora social da época e Rui Hara concluem que os tanzaku, cartões nos quais os japoneses escrevem poesias e pedidos de graça, seriam os novos mensageiros para os apaixonados e Seto faz uma adaptação missigenada da Lenda da Tanabata para que então pudesse ser eleita, no lugar da sinhazinha, a “Rainha da Tanabata”. Além disso foi feita uma réplica do Kasato Maru com o intuito de resgatar a história da imigração.

A idéia era fazer uma réplica do navio Kasato Maru, que seria montada em uma carreta e introduzida no auge da festa. Como isso era praticamente impossível devido as escadarias do ginásio de esporte do Nikkei, se optou por montar uma fachada cenográfica do navio diante o palco. (INFORMATIVO IMIN MATSURI 2003, p. 24).

A festa cumpriu sua função primordial, que era a de resgatar a cultura dentro da sociedade nipônica, uma vez que muitos não sabiam com exatidão da história da chegada dos imigrantes japoneses no Brasil. Devido ao sucesso do evento, em setembro do mesmo ano foi realizado o Haru Matsuri (festival da primavera) no mesmo local. Segundo o informativo do Haru Matsuri de 2003, tudo começou quando Hara decidiu criar a “semana cultural” durante a primavera. Com a ajuda de Seto e Osaki, eles criaram uma festa cheia de flores e misticismo, mais uma vez adaptando as atividades à realidade dos curitibanos.

Pegue um vaso florido e vá ao Nikkei. É Haru Matsuri – A Festa da Primavera. Na volta você trás seu vaso energizado, com bons fluídos do fussui (Feng Shui em chinês), essa energia vai garantir paz e harmonia no seu lar até o início da próxima Primavera. (INFORMATIVO HARU MATSURI 2003, p. 24).

O Gohei trata-se de uma espécie de espanador usado em cerimônias religiosas de origem Shinto para afastar energias negativas, e sua utilização é comum nos matsuris japoneses.

Os festivais passaram então a serem realizados anualmente nos meses citados acima e em pouco tempo tomaram uma proporção maior do que o clube poderia suportar. Em 1993, já com dois dias de duração, o Imin Matsuri foi realizado na Praça do Japão, ano no qual o “Memorial da Imigração Japonesa” foi inaugurado. O prefeito da época, Rafael Greca, propôs para a presidente da Fundação Cultura de Curitiba Alice Ruiz a construção do “Templo do Haikai”. Ela e Seto elaboraram um projeto que foi encaminhado para o então secretário do Meio Ambiente Hitoshi Nakamura, que com sua equipe construiu um edifício inspirado no Kinkakuji, também conhecido como Pavilhão Dourado, localizado em Kyoto.

Com os festivais crescendo rapidamente, os organizadores notaram que a praça do Japão não possuía espaço suficiente para receber os visitantes de maneira satisfatória. Sendo assim, o Haru Matsuri de 1993 foi realizado no Parque Barigui, fato que desagradou um pouco o prefeito da época. Seto (2007) conta que o prefeito havia criado a praça para que a comunidade nikkei pudesse realizar os matsuris em um espaço propício e por esse motivo a maioria das festas posteriores aconteceram na praça do Japão.

Ambas as festas sempre foram envolvidas de misticismo e simbologia, muito embora nem todos os visitantes se dêem conta disso. Ao longo dos anos foram inseridas várias lendas e costumes, entre eles a escolha da Deusa do Matsuri.

Matsuri é a palavra japonesa para designar festa ou festival. Originalmente significa “ato de oferendar coisas aos deuses” na tradição Shintô (religião nativa do Japão). Isso subentende que não existe matsuri sem uma divindade. Por isso é comum no matsuri do Japão, pessoas carregando o Omikoshi, que é um altar portátil, onde está a divindade daquele festival. O Omikoshi é carregado pelas ruas para espantar maus espíritos e fazer varredura de todos os males, como doenças, fome, catástrofe, etc. (PLANETA ZEN, 2005, p. 4)

Seto (2007) conta que quando era pequeno sempre ficava encantando com os homens saindo dos matsuris carregando os omikashis e andando pelas ruas da cidade, fazendo uma grande festa para espantar os males. Sendo assim, para que a festa seja abençoada, é feita a escolha simbólica da Deusa do Matsuri, que pode variar durante o ano.

São distribuídos durante as festas informativos descrevendo um pouco da história dos matsuris, além de lendas japonesas e notícias sobre a comunidade nikkei. Outra maneira de resgate cultural realizado durante os eventos é o uso da Moeda Matsuri, que nada mais é do que um dinheiro interno que pode ser comprado nos caixas e depois trocado por comidas, sendo muito mais higiênico e colaborando no controle financeiro interno dos festivais. São impressas notas coloridas de 0,50 imin, 1 imin, 2 imins, 5 imins e 10 imins, cada qual com uma imagem que remeta ao tema do matsuri.

No ano de 2005, já tendo os matsuris conquistado o posto de maior feira gastronômica de Curitiba, é criado o Hana Matsuri (festival das flores, ou ainda o Natal de Buda), em comemoração ao nascimento do primeiro Buda. Reza a lenda que logo após nascer, andou sete passos, apontou a mão direita para o céu e a esquerda para a terra e disse “eu sou meu próprio senhor entre o céu e a terra”. Além disso, no momento do seu nascimento “a terra tremeu e a chuva de néctar caiu do céu, abrindo todas as flores do jardim de Lumbini”. (INFORMATIVO HANA MATSURI 2005, p. 12)

Neste mesmo ano os matsuris mudaram-se para espaços maiores, uma vez que o público recebido já ultrapassava 35 mil pessoas, segundo Seto. O Hana Matsuri e o Haru Matsuri foram realizados no Museu Oscar Niemeyer, restando apenas o Imin Matsuri na praça do Japão. Já em 2006 todos os festivais aconteceram em locais mais amplos, sendo que apenas no Hana Matsuri de 2007, o último promovido até a conclusão deste trabalho, voltou para a praça. Nessa ocasião, o festival contou com a presença de aproximadamente 40 mil pessoas e a participação de 39 entidades independentes do Nikkei Curitiba e 21 departamentos do clube.

A presença dos jovens no evento é bastante significativa e incentivada pelos organizadores. Se por um lado os festivais têm como princípio a manutenção da cultura tradicional japonesa na comunidade nikkei, por outro estão abertos para as diversas demonstrações da cultura pop, seja por descendentes ou não.

O verbo transgredir é cada vez mais praticado nos matsuris de Curitiba. As pessoas deixam as mesmices de lado, vestem como querem e vivem suas fantasias esquecendo obrigações diárias, os estresses, o trânsito e os chatos que nos rodeiam. No próximo matsuri, transgrida e seja feliz você também. (PLANETA ZEN, 2005, p.4)

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7 respostas para “História dos Matsuris de Curitiba”

  1. Avatar de Vinicius
    Vinicius

    “A presença dos jovens no evento é bastante significativa e incentivada pelos organizadores.”

    Epic fail… depois de reduzir o palco jovem para um tablado jovem, e até mesmo banir o mesmo dos matsuris, é dificil acreditar em um fiapo de incentivo aos jovens.

    A realidade é essa, a organizaçao não está nem ai pros jovens, está mesmo é de olho nas verdinhas. Quem gera renda para o evento são aqueles visitantes casuais que vão no matsuri só para comer yakissoba, o palco jovem, que diga-se de passagem, era dezenas de vezes mais interessante do que o principal, constantemente tragava toda a atenção dos visitantes, e pelo que eu me lembre, muitas vezes, eles chegaram a cortar a nossa luz para impedir que aglomerasse demais no palco jovem quando havia uma atração no principal.

    O nikkei, a associação hikaru, o rui hara, e quem quer diabos que esteja lá no comando, não dá a minima… convenhamos.

    Sem mini matsuris, sem palco jovem, sem o minimo de respeito com um publico igualmente importante… E agora josé?

  2. Avatar de Mylle Silva
    Mylle Silva

    Agora você promove um evento, que tal?

    E é incentivada sim, porque se não fosse não teria nem banda e nem Matsuri Dance… Claro que há cortes, mas chegou num ponto que muitos jovens não estão mais respeitando o espaço que lhes foi dado, simples assim.

  3. Avatar de Vinicius
    Vinicius

    Olha, já participei da organização de simpósios, semanas acadêmicas, e coisas do tipo, longe de ser um matsuri, mas sei que é difícil agradar gregos e troianos. Não tiro o mérito da organização do evento, só critico essa retração absurda do espaço que é dado ao jovem nos matsuris. Acha que tem gente passando dos limites? Bem, natural, o evento cresceu, o fandom aumentou, e sempre haverão pessoas inconsequentes por ai, mas porque reprimir algo que não se arquetipa em todos os jovens que participam do evento? A violência ocorre entre pessoas que vão aos estádios assistir jogos de futebol, então seguindo essa mentalidade, deveríamos banir o esporte de nossa nação?

    Sinceramente, não acredito que o povo que vai a um lugar desses tenha piorado tanto de anos para cá, apenas, acredito que está ocorrendo a tradicional ruptura de gerações, não pode se comparar o jovem telespectador de naruto, recém inteirado no fandom curitibando, a aqueles que como nós, iamos nas feiras do nikkei, ou nos matsuris da praça, mas acredito que desde 2005, por exemplo, o primeiro no mon, onde o bon odori (que ainda era bon odori por sinal) adquiria suas primeiras coreografias novas, e o palco jovem não existia, obrigando o pessoal a saltitar sobre o pátio interno do museu, os fãs da cultura mais moderna conseguiram abrir um pouco deste espaço e se livrar um pouco do estigma natural que vinha daqueles organizadores mais velhos, que definitivamente não apreciavam essa intrusão a cultura que eles vinham tentando proteger. O seto era uma exceção muito clara, sempre foi um sujeito extremamente simpático conosco, e obviamente deixou um vazio muito grande nos matsuris, e não acho que as idéias dele de dar mais espaço aos mais jovens estejam sendo bem absorvidas atualmente. Afinal, é mais fácil cortar do que controlar, calar do que ouvir as demandas dos outros, porém, não acho que sairemos ganhando em nada com isso.

    Não concordo com a conduta de muitas pessoas no matsuri, mas isso não me dá o direito de julga-las como erradas, não bebo, não fumo, e muito menos aproveito esses eventos para ser um irresponsavel, mas cada um que cuide do seu comportamento, e se a organização acha que alguém passa dos limites, é só enxotar o individuo para fora, e não boicotar centenas de pessoas inocentes. Só não posso deixar, ou me calar para a situação do fandom de curitiba, poxa, ia no animeencontro, ainda na cinemateca, e depois no marista, e acompanhei varias novelas como o onna matsuri, e o animefestival daqui. E acredito que nos conformamos gradativamente com a situação de Curitiba. Eu sei mylle, que não posso incluir você nesse grupo, mas uma gaivota só não faz verão, e penso que os matsuris, de um jeito ou de outro, estavam internamente atrelados ao público “otaku” de Curitiba. E comportamentos como o seu me entristecem, se você que é uma figura emblemática se conforma, e posta-se contra tudo que demoramos anos para conquistar, o que dirá daqueles que compartilham estes nossos gostos, mas não estavam inseridos neste contexto social? Vão com certeza achar isso normal, sem ao menos ter tido conhecido a época de ouro dos matsuris para os jovens. Assim, teremos certamente perdido algo que não poderemos recuperar tão facilmente.

    Conheci pessoas maravilhosas em todos os meus anos frequentando matsuris, muitas delas não sei nem mais o que andam fazendo da vida, outras até hoje são importantes para mim, mas todas elas de alguma forma me marcaram, cada acontecimento e memória desses eventos é precioso para mim, e sem os matsuris isso não teria aontecido, é natural que eu queira proteger essas lembranças, então não me condene por ser um tolo emotivo e defender gente que na sua opinião não merece defesas. Gostava da época onde tinhamos um palco de verdade, não um tablado, e até sinto saudades da Jéssica apresentando, mesmo que na época tenha passado muitos momentos de raiva por causa dela. E queria que os que vem depois de mim, sintam de alguma forma o que eu senti nesses anos, e cultivem esses eventos como algo especial. Muitas pessoas diziam que os minis banalizavam os matsuris, e que no fim das contas só atraia gente que ia lá sujar a praça e jogar lixo no chão… Mas sei que não era bem assim, o mini sempre teve um ar provinciano, onde velhos amigos se encontravam para conversar dançar ou qualquer coisa deste tipo, muitas destas pessoas só ia lá para procurar uma diversão saudável, então não acho justo que nos dobremos as decisões alheias apenas porque elas não compreendem que uma parcela não é igual a todos. Reclamações de terceiros, que por sinal eram infundadas, pois reclamavam dos matsuris, até quando não havia matsuri algum! Sei que não é a sua intenção entrar no mérito dos minis, mas acredito que seja uma faceta interessante do problema como um todo.

    Enfim, amo os matsuris, porque cresci os frequentando, sem eles não seria a pessoa que sou hoje, isso pode parecer exagero, e de fato pode ser, mas esses eventos têm um espaço especial no meu coração, e assim minha moral não me permite deixá-lo desguarnecido enquanto o transformam em algo oposto a aquilo que tanto nos empenhamos em conseguir. Para mim, o jovem tem de ter o seu espaço, tem de ter o respeito daqueles que o cercam, assim, não podemos simplesmente internalizar o problema, deixando de lado as soluções reais e optando por respostas fáceis. Não é como tirar um beneficio de um individuo porque ele agiu mal, é imputar a todo um grupo uma punição por algo provavelmente perpetrado por alguma outra pessoa alheia, e na minha concepção de justiça, isso, definitivamente, não é justo.

    Ache o que quiser, sei que a velha guarda não está contente com os rumos que os matsuris tomaram, que preferiam a dança das velhinhas com vassouras à para para, que acreditam que essa pirralhada que invadiu os eventos é um bando de irresponsáveis sem conduta. Mas acho que para algo melhorar, temos que ao menos ter espaço para que isso aconteça, se reprimirmos, nada irá mudar na verdade. Essas são as minhas crenças, infelizmente sou um solitário em um mar de hostilidade, não posso mudar tudo ao meu redor, mudaria se pudesse, portanto vou continuar acreditando que o que estão fazendo é errado, e tentar mudar, pouco a pouco, essa mentalidade de conformismo que vem se apossando de nós.

  4. Avatar de Mylle Silva
    Mylle Silva

    Na verdade eu não vou discordar de você, muito pelo contrário. Eu acompanho os Matsuris desde o planejamento até o final já há uns dois anos, tenho um bom contato com os organizadores e tudo mais. Parte do problema foi sim o Mini Matsuri, tudo que acontecida na Praça. No entanto, cada vez que falo “tudo que acontecia na Praça” eu sei bem que é uma minoria que faz baderna, se embebeda e suja tudo.

    A verdade é que eu simplesmente desanimei de lutar por uma coisa que só ouço falar mal. Prefiro guardar minhas energias para fazer um evento como o AnimeXD, por exemplo, ou mesmo pra ficar escrevendo aqui no Tadaima.

    O Seto passou alguns anos tentando convencer os organizadores que colocar um palco para os jovens seria uma coisa boa. Apesar da grande influência que tinha, não era ele quem mandava, infelizmente. No fundo ele queria fazer um matsuri para os jovens, mas sabia que concecionárias e bancops não aceitariam patrocinar um evento assim – ao menos aqui em Curitiba. Por isso lutava pelo palco jovem, por juntar as coisas.

    Apesar de eu nunca dizer isso claramente, considere esse momento um hiatus da Feira da Praça. Ainda temos um looooongo caminho pela frente, pode ter certeza disso.

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