No dia 16 de janeiro foram publicadas duas matérias na Folha de Londrina sobre os Mini Matsuris. Apesar do nome do jornal, a redação do caderno voltado a Curitiba fica próximo a Praça do Japão, fato que atraiu um pouco a atenção do jornalista Omar Godoy, redator dos textos. Clique nos títulos das matérias para acessa-las direto do site da Folha de Londrina
Cultura ou Balada?
Até pouco tempo subterrânea no Brasil, a cultura pop japonesa explodiu no país com o advento da internet e dos canais de tevê por assinatura. E o que era voltado apenas para fãs obcecados, conquistou admiradores dos mais variados perfis. “A demanda aumentou e os animes e mangás viraram moda”, afirma Cláudia Hamasaki.
A blogueira Mylle Silva, uma das organizadoras dos Mini Matsuris, acredita que as confusões na praça são fruto dessa popularização do “Japão jovem”. Ela reconhece que os frequentadores deixaram de lado o “perfil cultural” da festa – hoje uma grande balada gratuita e ao ar livre.
“Tem gente que vai só para puxar briga. Até skinheads já passaram por lá”, diz a agitadora cultural, que agora faz campanha para reduzir o consumo de álcool nos eventos.A polêmica também anda quente nos blogs e, principalmente, no Orkut (sempre ele). No site de relacionamento, comunidades como “Curitiba no Matsuri” e “Mini Matsuri – Praça do Japão”, ambas com mais de mil membros, viraram um fórum de discussão permanente sobre os hábitos da tribo.
As opiniões se dividem. Há os rebeldes sem causa, que só querem colocar lenha na fogueira, e também os mais conscientes, cujo discurso inclui até ameaças de abandonar os eventos. Para eles, os Mini Matsuris simplesmente perderam o “significado”. (O.G.)
Festa interrompida
Vizinhos reclamam da bagunça e eventos mensais na Praça do Japão são cancelados até março
Eles não são tão numerosos quanto os pagodeiros, sertanejos, vileiros, skatistas e playboys de plantão. Mas, quando se juntam, formam um grupo grande, novo e extravagante.
São os otakus (fãs da cultura pop japonesa), emos, metaleiros, góticos e afins, cada vez mais presentes na paisagem curitibana. Uma tribo composta por microtribos, cujo principal ponto em comum talvez seja justamente a dificuldade – ou a falta de vontade – de se adequar às outras turmas.
Seu ponto de encontro, além da internet, é a Praça do Japão, entre os bairros do Batel e Água Verde, onde acontecem os Mini Matsuris (eventos mensais promovidos pela comunidade japonesa). À primeira vista, os frequentadores não passam de nerds reunidos para falar sobre suas paixões e obsessões culturais. Não é bem assim.
Barulho, vandalismo, bebedeira, brigas e bolinação em público se tornaram uma constante na praça e suas imediações. Tanto que a vizinhança, representada pelo jornal do bairro, encampou uma campanha informal contra a realização das festas, que chegam a atrair 500 pessoas. As queixas repercutiram e os organizadores decidiram cancelar os Mini Matsuris de janeiro e fevereiro.
O que é uma pena, a julgar pela falta de programação cultural gratuita para os jovens. Mas não é a primeira vez que isso acontece. Em meados do ano passado, a polêmica sobre a presença dos vileiros nos shoppings centers evidenciou o mesmo problema: como controlar a garotada que só quer se divertir nos fins de semana?
Cláudia Hamasaki, responsável pelo Centro de Cultura Praça do Japão, garante que a festa vai voltar em março, porém com mudanças. ”Vamos priorizar a alimentação, com pratos típicos, e realizar mais oficinas e exposições. A ideia é chamar outro tipo de público”, adianta.
Para os moradores das redondezas, isso não é suficiente. Luiz Gonzaga, diretor do Jornal do Batel, que deu voz aos queixosos, defende um policiamento mais rigoroso. ”A praça é de todos, e não apenas dos vizinhos. Só que estes não estão podendo usá-la”, afirma.
O comerciante Fernando Abagge, que mora e tem uma loja na região, concorda com Gonzaga. ”A gente nem sai na rua quando acontecem essas festas”, conta. No entanto, ele sugere uma solução mais radical. ”Este não é um bairro para receber esse tipo de evento. A festa deveria se mudar para um espaço maior, como um parque”.
Cláudia admite que um maior efetivo policial no local pode evitar abusos, mas chama a atenção para uma possível ”transferência do problema”. De acordo com ela, os jovens agora estão se reunindo em volta dos shoppings. ”Eles se falam o tempo todo pela internet. É uma ilusão achar que vão se dispersar”.A organizadora ainda lembra dos planos do ilustrador Cláudio Seto, morto em dezembro do ano passado. Um dos maiores entusiastas da cultura nipônica por aqui, ele sonhava em transformar as imediações da Praça do Japão em uma versão brasileira do Harajuku – bairro de Tóquio que virou ponto turístico por reunir gente de todas as tribos, em um desfile de estilos, cores e tendências.
Para Cláudia, a garotada da Praça do Japão faz parte de uma geração que quer ser vista a todo custo, nem que para isso tenha de adotar um visual estranho. Daí o surgimento da verdadeira ”fauna” que anda assustando a vizinhança antes mesmo de cometer algum abuso. ”A coisa saiu um pouco do controle, sim. Mas acho que os moradores também exageram um pouco. Agora, os bons vão pagar pelos maus”, resume.
P.S.: Créditos das fotos: Mylle Silva (primeira foto) e arquivo da Folha de Londrina (as seguintes à direita)
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