Ouvi a algum tempo o Monacast relacionado com a obra do grande animador Miyazaki Hayao, considerado um dos grande gênios da animação mundial. Este fato, somado ao lançamento do MEMAI contendo uma matéria sobre o Estúdio Ghibli, me motivou a começar esta série sobre a obra deste brilhante mestre da animação (tudo bem, já li a matéria, mas juro que não vou copiar nada!!).
Você, fã de anime, certamente já viu um filme de Miyazaki Hayao. Sim, porque, se não viu, então você não pode ser considerado realmente como um fã de anime. Afinal, está na obra do gênio criador de um dos mais famosos estúdios de animação do Japão, o Estúdio Ghibli, alguns dos desenhos mais belos, completos e emocionantes já feitos na história da animação japonesa. E por que eu afirmo isso?
*pausa*
Se você não viu nenhuma das obras-primas de Miyazaki, está no lugar errado! Deveria estar vendo algum dos filmes AGORA MESMO! Só volte depois de ver algum, de preferência TODOS ELES!
*despausa*
Afirmo isso porque eles são únicos. E isso você, que CERTAMENTE já viu algum filme dele, pode me confirmar. Pense em qualquer um dos filmes dele que você já tenha visto, e certamente alguma cena emocionante virá à sua mente. Por exemplo, como não se alegrar no momento em que Satsuki e o Nekobus encontram Mei? Ou não se encantar com Chihiro e Haku caindo às lagrimas após lembrar que o jovem era Kohaku, o espírito do rio? Até momentos triviais de seus filmes, como o voo de Nausicaa em seu planador ou o caminhar do Castelo Animado de Hauru, conseguem transmitir toda um conjunto de sensações que tornam o simples ato de apreciar uma de suas películas uma experiência única.
Nascido em 5 de janeiro de 1941, na cidade de Tóquio, Miyazaki começou como um intervalador, ou seja, o cara que fica fazendo a animação propriamente dita, desenhando as imagens que conferem a sensação de movimento às figuras. E não começou em qualquer lugar, mas na toda-poderosa Toei Animation, a produtora que criou as animações de, por exemplo, Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. E Miyazaki era tão bom que ganhou fama em 1965, quando viu o final previsto para o anime Gulliver no Uchuu Ryokou e, ao achar a idéia insatisfatória, resolveu propôr um novo final, que foi aceito!
E, em 68, ele realizou o primeiro trabalho ao lado de Takahata Isao, que se tornaria um parceiro de trabalho pelas próximas décadas. Os dois diretores, que se conheceram durante a produção do anime Horus, Prince of the Sun, saíram da Toei e, em 1984, fundaram o Estúdio Ghibli. “Ghibli” era o nome dado aos aviões italianos que sobrevoavam o Saara durante a Segunda Guerra Mundial, nome este que, por sua vez, vinha de Sirocco, o vento que vinha das areias do Saara. Dizem por aí que o estúdio foi batizado assim porque viria a soprar novos ventos na animação japonesa… E, na minha opinião, foi deveras bem-sucedido. No vídeo abaixo você pode apreciar um pouco dos trabalhos maravilhosos que NÃO SÃO do Miyazaki, mas que só de ver uns trechinhos já dá uma enorme vontade de assistir (e os do Miyazaki, na minha opinião, conseguem ser ainda melhores)!
A criação do Estúdio Ghibli foi possível, em grande parte, graças ao sucesso do longa Kaze no Tani no Nausicaä (Nausicaä do Vale dos Ventos), que foi escrito e dirigido por Miyazaki e produzido por Takahata. A história da menina que vivia em um vale cercado por plantas venenosas e insetos gigantes e luta para salvar sua aldeia é considerado o primeiro filme do estúdio, e chegou a ser lançado no Ocidente, apesar de Miyazaki querer esquecer esse fato (se você já viu o anime original, procure por “Warriors of the Wind” na internet e você vai entender o porquê).
Neste filme já podem ser vistos alguns traços que se tornaram marcantes durante os trabalhos de Miyazaki. Um deles é a presença de personagens femininas: Nausicaä, Kiki, San, Chihiro, Sophie… Em todos os filmes de Miyazaki existe alguma mulher com uma personalidade forte, algo diferente do que a Disney fazia em seus filmes, com princesas geralmente submissas e à espera de um príncipe encantado. Nas histórias de Miyazaki não só as mulheres são mais independentes, como também tem problemas e dilemas típicos de mulheres, ou de qualquer ser humano. Afinal, qual mulher, e até homens, não se identifica ou mesmo teme uma história como a de Sophie, que via a vida passar diante de seus olhos até ter sua beleza e juventude roubadas? Por meio de suas personagens, Miyazaki fala a todo o seu público de uma maneira muito próxima dos sentimentos reais, mesmo que crie todo um mundo de fantasia ao redor.
Miyazaki também costuma falar, em seus filmes, da questão ambiental. A luta de San contra os caçadores em Mononoke-Hime, a batalha de Nausicaa para proteger os ohmus em Kaze no Tani no Nausicaa, até mesmo o espírito mal-cheiroso do rio que Chihiro tem que limpar em Sen to Chihiro no Kamikakushi (A Viagem de Chihiro) são exemplos dos elementos ecológicos que Miyazaki utiliza em seus filmes. Outra coisa que sempre tem nos filmes é algo voando: seja um castelo no céu, como em Tenku no Shiro Laputa, sejam aviões de guerra como em Porco Rosso, ou mesmo um bruxo, tipo o Howl, de Hauru no Ugoku Shiro (O Castelo Animado). Bom, pelo nome do Estúdio vir de um avião de guerra, dá pra notar que o Miyazaki gosta mesmo dessa coisa de voar, né? Até o Totoro voa!
O diretor também preza pela alta qualidade e perfeccionismo na sua obra. E isso implica em transportar o máximo possível da realidade para seus trabalhos. Essa preocupação pode ser vista muito bem nos extras de A Viagem de Chihiro, que mostram todo o período de produção do filme. Quando os animadores tem que fazer a cena em que Chihiro vai abrir a boca do Haku, Miyazaki pergunta a eles quem que já deu remédio para um cachorro. Como nenhum dos animadores se manifesta, ele leva todos a um consultório veterinário, dizendo algo como “para fazer a Chihiro abrindo a boca de Haku, lembrem-se de como dar remédio a um cachorro”. Realismo puro! Outro fato que me chamou a atenção foi a coleta de efeitos sonoros para o desenho. Como grande parte da aventura se passa em uma casa de banhos, a produção teve que ir até uma casa de banhos de verdade, e gravar todos os sons possíveis, como a água sendo jogada no chão e os passos dos funcionários sobre o chão molhado. Hayao também se preocupa com os cenários, tentando torná-los próximos de lugares verdadeiros, na medida do possível. Abaixo está um trailer de um DVD que mostra os lugares reais nos quais Miyazaki se inspirou para fazer seus cenários. Quem viu os filmes vai querer ir correndo conhecer estes lugares (e quem não viu também, claro!).
E, como se não bastasse as histórias serem ótimas e o desenho ser visualmente magnífico, as trilhas sonoras são simplesmente emocionantes! Todos os filmes de Miyazaki tem a trilha sonora assinada por um músico: o mestre Joe Hisaishi. E o cara é genial, simples assim. Tanto que, para a apresentação de 25 anos de trabalho em parceria com o Estúdio Ghibli, Hisaishi pôde dispor de “apenas” uma orquestra de cerca de 200 pessoas, e mais um coral de 800 pessoas. Tipo, pra quem pode. E ele certamente pode, pois suas músicas, na minha opinião, são carregadas de um sentimento que se adequa de maneira perfeita ao filme, transmitindo e complementando toda a sensação que o enredo deseja passar. Além de serem músicas maravilhosas. E, principalmente, é um cara que tem tanto prazer em tocar que isso transparece de maneira nítida nas suas apresentações. É só ver o comecinho desse vídeo para simpatizar de cara com o maestro. E aproveitar pra curtir uma das trilhas sonoras infantis mais famosas dos animes.
Por fim, vos digo: Miyazaki é um gênio porque sabe contar uma história. Seus enredos, envoltos por mundos fantásticos, e personagens cativantes, com mensagens ambientalistas e de esperanças, são, principalmente, narrativas emocionantes. Quer tirar a prova? Veja só este clipe feito para a música “On Your Mark”, da dupla Chage & Aska, e perceba como, mesmo sem falas e com apenas alguns minutos, Miyazaki consegue cativar qualquer um.
E, como eu disse no começo do tópico, isso é pra ser uma série. Ou seja, toda vez que faltar inspiração, bora falar sobre um filme do Hayao por aqui! Afinal, todos merecem ser vistos, revistos, comentados, recomentados, repetidas e repetidas vezes! Então, só pra dar um gostinho, aí vai mais um video, agora com algumas cenas dos filmes, pra deixar aquela vontade de ver todos eles. Escolhi o vídeo abaixo porque queria um que tivesse cenas de todos os filmes (menos o mais recente, Gake no Ue no Ponyo), e também usasse como trilha uma composição do Joe Hisaishi (pelo menos na primeira parte). Taí!
E que vontade que me deu de ver todos esses filmes de novo!
P.S. Esse post vai pra nossa querida professora Lina, que tão gentilmente me deixou um comentário no primeiro post e eu tão repugnantemente ignorei. Ainda vamos fazer um fã-clube Ghibli aqui, Lina-sensei!
P.P.S Tudo bem, eu admito, eu não vi nem o Lupin III – Castle of Cagliostro, e nem o Gedo Senki (Contos de Terramar)… Mas, ei, boatos que desse último nem o Miyazaki gostou! E olha que é do filho dele!
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